Festa brasileira: Brasil ganhou título mundial em cima da Argentina
Brasil e Argentina é uma rivalidade conhecida no mundo do futebol, um duelo de grandes emoções e grandes conquistas de ambos os lados ao longo das décadas. Mas se você pensa que isso acontece apenas no futebol, está enganado. Em outras modalidades existem grandes disputas, como no automobilismo, e foi lá que o nosso país teve uma grande conquista sobre nossos ‘hermanos”.
Foi em 1981, quando a Fórmula 1 vivia um momento de mudanças políticas e disputas pelo controle da categoria, mas, dentro das pistas, o cenário inicial permaneceu inalterado em relação ao ano anterior: Alan Jones, campeão em 1980, venceu a etapa de abertura no GP do Oeste dos Estados Unidos. Carlos Reutemann, seu companheiro na Williams, triunfou na segunda corrida, no Brasil. Piquet respondeu com vitórias consecutivas na Argentina e em San Marino.
Mesmo com Williams e Brabham dominando a disputa, Alain Prost (Renault) e Jacques Laffite (Ligier) ainda tinham chances matemáticas de título após 13 das 15 corridas do campeonato. Reutemann liderava com três pontos de vantagem sobre Piquet (49 a 46), seguido por Prost e Jones (37) e Laffite (34). Cada vitória à época valia nove pontos. O Mundial seguiu então para a América do Norte, com etapas no Canadá e em Las Vegas.
Reta final consagrou o primeiro título de Piquet
No Canadá, Laffite venceu, enquanto Piquet terminou em quinto. Já Prost e Jones ficaram fora da zona de pontuação, deixando a disputa pelo título reduzida a Reutemann e Piquet antes da prova decisiva, realizada no circuito improvisado de Caesars Palace, em Las Vegas.
Originalmente, o campeonato deveria ir a Watkins Glen, mas problemas financeiros tiraram a pista do calendário. Assim, em menos de dois meses, a etapa de Vegas foi organizada. O circuito era tão novo que sequer havia sediado eventos automobilísticos, o que levou a um treino livre extra na quarta-feira, já que a corrida aconteceria no sábado.
Na sexta-feira, Reutemann conquistou a pole-position, com Jones ao seu lado na primeira fila. No entanto, a relação entre os dois estava desgastada. Jones estava deixando a Fórmula 1 e ainda guardava ressentimentos por Reutemann ter ignorado ordens de equipe no Brasil, consolidando sua postura de não aceitar o papel de segundo piloto.
Piquet largou na segunda fila, atrás de Gilles Villeneuve, enquanto Laffite saiu apenas da 12ª posição. O clima no deserto era seco, mas com temperaturas moderadas de 25°C.
A largada foi intensa. Villeneuve, com uma manobra agressiva, superou Reutemann, que teve uma saída lenta e logo perdeu posições para Jones, Prost, Giacomelli e Piquet. Apesar do início ruim, o argentino ainda dependia apenas de si para ser campeão. Após uma primeira volta movimentada, Reutemann era quinto, enquanto Laffite e Piquet ocupavam o sétimo e oitavo lugares.
Jones manteve a liderança, enquanto Villeneuve segurava os adversários atrás. Aos poucos, os abandonos começaram a acontecer: Patrick Tambay se envolveu em um acidente com Andrea de Cesaris, enquanto problemas mecânicos eliminaram Elio de Angelis, René Arnoux e Eddie Cheever.
O momento decisivo da corrida veio na volta 17, quando Piquet ultrapassou Reutemann, que enfrentava dificuldades, e assumiu a sétima colocação. Àquela altura, a posição ainda não lhe rendia pontos, mas a situação mudou quando Villeneuve rodou e abandonou. Mario Andretti chegou a ultrapassá-lo, mas depois ajudou o brasileiro ao pressionar Giacomelli e forçar um erro do italiano.
Ao longo da corrida, o cenário seguiu favorável para Piquet. Com problemas nos pneus, Prost perdeu rendimento, permitindo que o brasileiro subisse para a quarta posição. O título ficou ainda mais próximo quando Giacomelli ultrapassou Reutemann, empurrando o argentino para fora da zona de pontuação.
A sorte ainda pareceu sorrir para o piloto da Williams, quando Mansell e Giacomelli superaram Piquet, relegando-o ao sexto lugar. Com essa configuração, ambos empatavam em pontos, mas os critérios de desempate favoreciam o brasileiro.
A definição veio nas voltas finais. John Watson ultrapassou Reutemann, retirando-o da zona de pontuação de vez. Laffite também teve problemas com pneus, mas conseguiu se recuperar e passou pelo argentino. No fim, Jones venceu a prova, seguido por Prost e Giacomelli. Mansell foi quarto, enquanto Piquet cruzou a linha de chegada em quinto, garantindo o título mundial de 1981. Laffite fechou a zona de pontuação em sexto, e Reutemann terminou apenas em oitavo.
Com seis vitórias na temporada, Nelson Piquet sagrou-se campeão mundial aos 29 anos, em apenas sua terceira temporada completa na Fórmula 1. Ao longo da década seguinte, conquistaria mais 17 vitórias e dois títulos mundiais: em 1983, ainda com a Brabham, e em 1987, com a antes rival Williams. Quando se despediu da categoria, no final de 1991, acumulava 204 corridas e um legado consolidado como um dos maiores pilotos da história do automobilismo.