Ayrton Senna foi considerado campeão da Fórmula 1 mesmo com menos pontos que Prost

Ayrton Senna conquistou o título da Fórmula 1 em 1988 de forma épica, com uma vitória memorável no Grande Prêmio do Japão. No entanto, engana-se quem pensa que o caminho até o título foi fácil.

Para alcançar o primeiro de seus três títulos na categoria — ele ainda venceria em 1990 e 1991 —, Senna precisou superar desafios gigantescos. Entre eles, uma impressionante virada sobre Alain Prost, seu companheiro de equipe e já bicampeão (1985 e 1986), além de um erro marcante no GP de Mônaco e as peculiaridades do regulamento da época.

Com 28 anos e em sua temporada de estreia na McLaren — equipe que dominou aquele ano —, o brasileiro soube enfrentar a pressão. O resultado? Oito vitórias e impressionantes 13 pole positions em 16 corridas, além de um espetáculo inesquecível em Suzuka, no dia 30 de outubro.

Como Senna foi campeão em 1988?

O campeonato começou com Nelson Piquet como atual campeão, defendendo a Lotus após conquistar seu terceiro título em 1987 com a Williams. Senna também corria pela Lotus no ano anterior e terminou em terceiro na classificação, atrás de Prost, que já estava na McLaren desde 1984.

A terceira etapa do campeonato foi no Principado de Mônaco, onde Senna já havia vencido no ano anterior e construiria sua fama de “rei” das ruas de Monte Carlo. No entanto, em 1988, ele sofreu um revés inesperado: liderava com folga até a volta 67, quando bateu sozinho e abandonou a prova.

No dia seguinte, a Folha de S. Paulo estampou em sua manchete: “O barbeiro de Mônaco“.

Senna brilha, mas Prost lidera

Nas primeiras quatro corridas, Senna demonstrou velocidade ao garantir a pole position em todas, mas venceu apenas em San Marino. Prost, por sua vez, triunfou no Brasil, Mônaco e México, abrindo uma vantagem considerável. Após o GP mexicano, a classificação apontava:

  1. Prost – 33 pontos
  2. Berger – 18 pontos
  3. Senna – 15 pontos

Senna emplacou duas vitórias consecutivas no Canadá e nos Estados Unidos, reduzindo a diferença para Prost de 18 para 12 pontos. No entanto, o francês reagiu em casa, vencendo o GP da França com direito a pole e volta mais rápida. Assim, antes do GP da Inglaterra, Prost liderava com 54 pontos contra 39 de Senna.

Em Silverstone, pela primeira vez na temporada, a McLaren não largou na pole, que ficou com as Ferraris de Gerhard Berger e Michele Alboreto. Senna partiu de terceiro, Prost de quarto.

Mas com a chuva, o brasileiro brilhou. Após ultrapassar Alboreto na largada, Senna assumiu a liderança na 14ª volta, deixando Prost, então apenas 11º, para trás como retardatário. O francês abandonou a prova, e Senna venceu, reduzindo a diferença para apenas seis pontos.

No GP da Hungria, Senna finalmente ultrapassou Prost na classificação. Largando da pole, ele venceu a corrida, enquanto o francês, que saiu apenas em sétimo, fez uma grande recuperação e terminou em segundo.

Na volta 49, Prost tentou assumir a liderança, ultrapassando Senna por dentro na reta dos boxes. Mas o brasileiro respondeu imediatamente com um “X” impecável e recuperou a ponta, garantindo a vitória. Com isso, ambos ficaram com 66 pontos, mas Senna liderava no critério de desempate: mais vitórias (6 a 4).

O regulamento dos descartes

Naquele ano, a Fórmula 1 adotava um sistema de descartes, no qual apenas os 11 melhores resultados das 16 corridas contavam para a pontuação final. Isso favoreceu Senna, que teve oito vitórias (72 pontos) e três segundos lugares (18 pontos), totalizando 90 pontos. Prost, com sete vitórias (63 pontos) e quatro segundos lugares (24 pontos), somou 87 pontos.

Se o regulamento atual estivesse em vigor, Prost teria sido o campeão com 105 pontos contra 94 de Senna.

Após quatro vitórias consecutivas — Inglaterra, Alemanha, Hungria e Bélgica —, Senna sofreu um revés, terminando em 10º, 6º e 4º nas corridas seguintes (Itália, Portugal e Espanha). Isso permitiu que Prost retomasse a liderança: 84 a 79.

Em Suzuka, Senna conquistou sua 12ª pole position da temporada, mas na largada, enfrentou um problema mecânico: seu motor apagou. Por sorte, a reta de Suzuka era em declive, permitindo que ele fizesse o carro pegar no tranco. Ainda assim, caiu para 14º lugar.

O brasileiro iniciou uma recuperação incrível, chegando ao terceiro lugar na 11ª volta. Quando Ivan Capelli abandonou na volta 19, Senna assumiu a segunda posição e começou a caça a Prost.

Na volta 26, finalmente fez a ultrapassagem decisiva. Na curva de acesso à reta, passou Prost e um retardatário ao mesmo tempo, assumindo a liderança e rumando para a vitória que lhe garantiu o título.

Ayrton Senna ergue o punho, vibra, é a vitória. Ayrton Senna… do Brasil! Campeão mundial de 1988“, narrou Galvão Bueno.