Nelson Piquet recebeu R$ 1 milhão para gravar comercial com velho rival
Uma ação comercial lançada em 2013 trouxe de volta o clima intenso da Williams no final dos anos 80, quando Nelson Piquet e Nigel Mansell compartilhavam a equipe e dividiam opiniões entre mecânicos e engenheiros. A iniciativa foi da Ford, que reuniu os ex-pilotos em uma pista de Porto Alegre para gravar uma campanha digital no pré-lançamento de um novo modelo da montadora.
Rivalidade reacendida na pista
Mesmo com o profissionalismo no cumprimento do contrato publicitário, Piquet e Mansell reviveram a rivalidade que marcou uma geração na Fórmula 1. Durante a gravação, os dois participaram de três corridas no circuito Velopark, com direito a toques de carro, recusas em ceder posição e até uma provocação física do britânico.
Com total liberdade para acelerar, os campeões abusaram dos contatos e deixaram os carros com arranhões e amassados. Em um momento de empolgação, chegaram a ignorar as chamadas para retornar aos boxes, prolongando a disputa além do planejado.
O bastidor da gravação
“Foram três corridas gravadas, que serão exibidas. Na primeira, um deles venceu, mas não posso revelar quem. Quando receberam a bandeirada, continuaram acelerando. O pessoal do rádio pediu para pararem, mas eles seguiram”, relatou Oswaldo Ramos, gerente-geral de marketing da Ford, em entrevista na época ao UOL Esporte.
A dinâmica das gravações também incluiu momentos espontâneos. No primeiro vídeo promocional, Piquet e Mansell chegam juntos aos boxes e iniciam uma troca de provocações. “É hora da última dança”, diz o britânico ao ex-companheiro, agora sem o bigode que foi sua marca registrada na F1.
Em outra cena, Mansell caminha pelo autódromo e dá um tapa no box 6, número utilizado por Piquet na Williams, após acariciar o próprio número 5. Segundo a produção, o gesto surgiu de forma natural e foi incorporado à campanha.
Fortuna ganha por Piquet pela ação
Anos depois, em uma entrevista para a jornalista Mariana Becker em live na internet, Piquet falou da ação publicitária e quanto faturou ao gravar com o ex-companheiro e rival.
“Fizemos o comercial do Ford Fusion, e eu me diverti muito… No começo, me ofereceram US$ 150 mil. Eu disse: ‘De jeito nenhum, quero R$ 1 milhão’. Eles retrucaram: ‘Não dá, o Mansell já assinou’. Respondi: ‘Então, esquece, não preciso disso. Minha vida já está resolvida’. No fim, acabaram concordando em pagar o que eu pedi, mas com uma condição: eu não poderia contar para o Mansell quanto recebi.
E o que foi a primeira coisa que eu fiz? Cheguei pra ele e disse: ‘Cara, soube que você assinou por US$ 150 mil para vir lá do fim do mundo até o Brasil. Pois é, os caras me pagaram cinco vezes mais’.”
A rivalidade na Williams
Piquet e Mansell dividiram a Williams em 1986 e 1987, período em que a equipe dominava a Fórmula 1. Mansell, considerado o favorito interno, frequentemente era acusado de copiar os acertos de carro do brasileiro. Para despistá-lo, Piquet supostamente passava configurações erradas aos mecânicos e só ajustava o carro corretamente instantes antes das corridas.
O brasileiro também não poupava provocações, chegando a chamar Mansell de “idiota veloz” e a aplicar pegadinhas nos boxes, incluindo o sumiço repentino de papel higiênico no banheiro. Além disso, ironizava publicamente as escolhas amorosas do britânico.
Com Mansell ao seu lado, Piquet conquistou o tricampeonato mundial em 1987. Já o britânico só ergueria seu único título na Fórmula 1 em 1992, quando o brasileiro já havia deixado a categoria.
Antes das gravações da campanha, os ex-companheiros participaram de uma entrevista para o Sportv, exibida na última terça-feira, na qual relembraram a rivalidade mesclando bom humor e novas provocações.